domingo, 5 de julho de 2009

Professor Teodoro; Memorial da Indústria de Sobral


EXMO. SR. PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO CEARÁ

REQUER ENVIO DE OFÍCIO AO MAGNÍFICO REITOR DA UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA, SOLICITANDO A CRIAÇÃO DO “MEMORIAL DA INDÚSTRIA DE SOBRAL” A SER CONSTRUÍDO EM PARTE DO PRÉDIO DA ANTIGA FÁBRICA DE TECIDOS DE SOBRAL.

O Deputado signatário, no uso das suas atribuições regimentais vem, mui respeitosamente, requerer envio de ofício ao Magnífico Reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, Prof. Antônio Colaço Martins, solicitando a criação do “Memorial da Indústria de Sobral” a ser construído em parte do prédio da antiga Fábrica de Tecidos de Sobral.
A virada do século XIX-XX assistiu à transição do Império de base escravocrata para a República do trabalho assalariado, ou seja, trabalho com liberdade.

Na segunda metade do século XIX, Sobral era o cenário da modernização, onde grandes alterações na vida urbana se processaram. A cidade deixou de ser uma pacata vila povoada por pecuaristas e pequenos comerciantes para transformar-se em pólo comercial e industrial, impulsionada pela chegada da ferrovia e intensas atividades culturais.

Era a chegada do progresso, da “Era da Industrialização”. A concepção de modernização tinha como referência maior a instalação da Fábrica de Fiação e Tecidos fundada em 1895, a terceira indústria têxtil a ser implantada no Ceará. Existiam então, a Fábrica Progresso (1882) e a Fábrica de Tecidos União Comercial (1891).

A 14 de julho de 1895, o comerciante nascido em Aracati, residente em Sobral, Ernesto Deocleciano de Albuquerque e Cândido José Ribeiro, comerciante do ramo têxtil do Maranhão, fundavam a firma Ernesto& Ribeiro para a produção de tecidos e fios, conhecida como Fábrica de Tecidos de Sobral.

A Ernesto & Ribeiro, depois transformada em Companhia de Fiação e Tecidos Ernesto Deocleciano, foi responsável em grande parte, pelo desenvolvimento econômico de Sobral, durante muitas décadas. A sua contribuição histórica e social, por mais de cem anos, é inegável em Sobral e região Norte.
Em 1904, a Fábrica de Tecidos, como era popularmente conhecida, produzia tecidos de algodão, riscados, atoalhados e mesclas, além de fios para tecelagem. A Fábrica já contava em 1899 com 185 operários, dos quais 90 eram mulheres.
Com larga visão empresarial, Ernesto Deocleciano expandiu a indústria e propôs a criação do primeiro Sindicato de Operários em 1896. Em seguida, construiu a Vila Operária de Sobral e uma escola para os filhos dos funcionários.

Em 1897, Ernesto Deocleciano consegue o arrendamento da Estrada de Ferro de Sobral, o que facilita a comercialização do algodão e produtos industrializados.
É importante salientar que a história da Fábrica de Tecidos de Sobral está intrinsecamente, ligada à Ferrovia (E.F.S.) pelos imensos benefícios, não só à fábrica, mas para a região Norte ao favorecer o escoamento de tecidos, algodão e produção agrícola de forma rápida e segura, estendendo-se ao Piauí e Maranhão.
Com a morte de Ernesto Deocleciano, em 1922, a Fábrica de Tecidos constitui nova sociedade e, em 1932, Cândido Ribeiro retira-se dessa sociedade passando a firma a ter o nome Ernesto, Saboya & Cia.

Em 1947, é transformada em sociedade anônima denominada Cia. de Fiação e Tecidos Ernesto Deocleciano. Ainda em 1947, inicia-se a construção da Usina Dr. José Saboya que se concretizará em 1952, permitindo o fornecimento de energia elétrica, a Sobral e alguns núcleos urbanos da circunvizinhança, até o início da década de 1960. Nessa época, a Fábrica de Tecidos tinha adquirido uma usina termoelétrica como fonte energética. Com a capacidade excedente da indústria, pode abastecer Sobral, através da Companhia Industrial Luz e Força de Sobral, resolvendo o precário sistema elétrico, então existente.

Entre os anos de 1940-50, sob a Direção do Dr. José Saboya, filho de Ernesto Deocleciano, os serviços foram ampliados com a compra de novos equipamentos, criada a assistência médica aos operários, expansão da Vila Operária e concessão de títulos de sócios para empregados mais antigos. Foi fundado um Clube Social para os operários (Cassino da Fábrica). Como forma de beneficiar a comunidade sobralense, a Fábrica passou a abastecer de água e luz a Santa Casa de Misericórdia e fornecer lençóis para os pacientes daquele hospital. A empresa exportava para a América do Sul, Europa e América do Norte, atingindo uma produção de 112.171 kg de fios/mês e 3.389.512 m. de tecidos/mês, no ano de 1956. A partir de 1961 a Fábrica começou a explorar óleos vegetais, gorduras, sabões, ceras e outros derivados.
A Fábrica de Tecidos teve, ainda, na sua direção o ex-senador Dr. Plínio de Pompeu de Saboya

Magalhães que ali permaneceu até o final de sua longa existência, em 1994.
Segundo artigo publicado por Dr. Luciano Arruda Coelho em 27/09/97 (História Contemporânea de Sobral, Org. Teodoro Soares - Vol I, p.147), “A mãe de Sobral está morrendo”, em que conclama a todos os sobralenses para a provável falência da centenária Fábrica. Informa que, “após a reforma dos anos 40, a Fábrica chegou ao seu apogeu de produção e de fonte de emprego, vindo a mobilizar 700 empregados diretos, ou 3.500 pessoas vivendo da Fábrica, o que na época, tendo a cidade de Sobral 50.000 habitantes, significava cerca de 10% da população. Esse patrimônio industrial de Sobral não poderia ser desativado” dizia ele.
Após mais de cem anos de funcionamento, a Fábrica de Tecidos encerrou suas atividades fabris e agora, será a sede do Campus Tecnológico da UFC em Sobral.
A sociedade sobralense, que conhece, guarda e respeita o seu passado, poderia seguir o exemplo da

Fábrica de Louça de Sacavém, em Lisboa (Portugal). Ao encerrar suas atividades, a Fábrica Sacavém, uma das mais conceituadas da Europa, transformou parte de seu espaço no Museu de Sacavém. Ali está preservado todo o processo da confecção da louça.
No Brasil, em Recife, encontramos as Oficinas Brennand, que se constituem um Museu de Indústria da Cerâmica, ocupando o prédio onde foi o Engenho São João.

Diante do exposto, sugerimos que em parceria com o Governo do Estado do Ceará, Prefeitura Municipal de Sobral e Universidade Federal do Ceará-UFC, esta Universidade através de sua Pró-Reitoria de Cultura tão bem dirigida pela Professora Glória Giovana Saboya Mont’Alverne Girão, que além de sugerir a criação deste Memorial, vem contribuindo junto ao Poder Judiciário de Sobral solicitando objetos que contam a história da Fábrica de Tecidos de Sobral, seja criado nesta imensa área da antiga Fábrica de

Tecidos, um espaço para a memória – “Memorial da Indústria de Sobral” - onde as referências da evolução tecnológica, documentação escrita e iconográfica, estarão expostas aos alunos, visitantes e pesquisadores.
O Memorial iria se constituir em monumento/documento à Indústria de Sobral. Abrigaria também, se possível, equipamentos da Companhia Industrial de Algodão e Óleos S.A. (CIDAO/1947) que se encontram no Campus CIDAO da UVA, podendo incorporar outras indústrias sobralenses. Informamos que para preservação no Museu Dom José e UVA, alguns equipamentos foram solicitados, tendo sido autorizado judicialmente. Assim, esses equipamentos poderiam compor o acervo do Memorial.

A História faz-se com documentos, sem dúvida. Mas, faz-se também, com tudo o que pertencendo ao homem, demonstra a sua presença, atividades e a sua maneira de ser.
Nesse sentido, as sociedades que valorizam a história patrimonial, vão reconstruindo sua memória coletiva sobre as ruínas de seus prédios e suas falências e delas, fazem nascer um novo conhecimento, guardado pela força do trabalho e pelo espírito daqueles que ali deram o melhor de si para a grandeza de sua História.

Sala das Sessões da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, em 04 de março de 2008.

Deputado Professor Teodoro

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