quinta-feira, 22 de abril de 2010

Seção FlashBack - Casos&Causos&Causas de Sobral City e de seus Habitantes

Causo 1 - - - - Tonico Figueiredo
Tonico Figueiredo foi personagem inesquecível para muitos sobralenses. Funcionário do Banco do Brasil, era primo e foi muito amigo(também de cerveja...) de Caetano Figueiredo, pai dos Autor destas linhas.
Tinha por volta de 10 anos de idade quando ouvi meu saudoso pai, sob efeito do vinus, o qual tomava diariamente, narrar, entre gargalhadas e sem maldade alguma, para os amigos, história que envolvia o seu primo Tonico.
Segundo Caetano, Tonico possuia, década de 1950, um sítio na antes arborizada Serra da Meruoca, atualmente quase devastada.
Neste sítio existia um cacimbão, cuja água abastecia Tonico e seus familiares e amigos.
Aí surgiu um problema. Algumas lavadeiras resolveram lavar roupas, na ausência de Tonico, usando águas do cacimbão. Ocorre que a água usada corria, em grande quantidade, de volta para a fonte, poluindo a mesma.
Depois de muitas e muitas reclamações, sem ver atendidas suas justas reinvidicações, resolveu Tonico tomar a dianteira dos acontecimentos.
Chegou, certo dia, de surpresa e bem cedo, ao sítio. Tirou a roupa e escondeu o corpo usando apenas uma toalha, dobrada à altura da cintura.
Chegando ao cacimbão, nas vizinhanças do qual se encontravam muitas lavadeiras entretidas com seu ofício e a contumaz conversa, Tonico Figueiredo, simplemente, "jogou a toalha".
Foi um corre-corre tremendo e há quem diga que até hoje as lavadeiras não foram apanhar as roupas que estavam lavando.
Às gargalhadas, Tonico voltou, em seu Jipe "Land Hover" para Sobral.
Por volta do final do Século XX, por aí, eu soube de notícias do Tonico Figueirdo morando em Niterói, Estado do Rio. Contou-me a pessoa em questão que Tonico, já quase nonagenário, costumava "tomar umas pinguinhas, vez ou outra, nas praias de Niteroi, olhando as moças bonitas."
Algum tempo depois, soube que Tonico Figueiredo falecera com mais de 90 anos de idade.
O Tempo é nosso maior Algoz.
(Daniel Figueiredo, 22/04/2010)
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Causo 2 - - - - Chico Figueiredo
Contou-me pessoa ligada à família, que teria ocorrido o seguinte episódio, certamente hilariante.
O então Deputado Francisco Figueiredo de Paula Pessoa (Chico Figueiredo), possuia casa na antiga Praça da Várzea; atravessando a rua chega-se ao local onde sempre funcionou a Mercearia do Enoque. Atualmente(2010) creio que nesta casa funcionaria uma Clínica Médica.
Bom de copo, bom de papo e fumante inveterado, como todo Figueiredo que se preza, saiu Chico Figueiredo de casa certa manhã, para reencontrar os amigos no Beco do Cotovelo, já que morava, na realidade, em Fortaleza.
Cheguei a visitar um de seus filhos, Dedé Figueiredo, pessoa muito estimada, em citada casa, que ficava na Avenida Santos Dumont, lado direito de quem vai para o Center Um, já quase chegando na Av. Barão de Studart( isto em 1973).
À tarde, um de seus netinhos ganhou de presente um tejo(pequeno réptil do Sertão). Devido ao calor de Sobral, por notar o animal muito abatido, citada criança resolveu encher a banheira com um pouco d'água e lá colocar o réptil. O tempo passou...
Certamente que o saudoso Deputado encontrou-se com amigos, neste dia; assim, em situações similares,....uma (ou mais, certamente...)cerveja bem gelada é indispensável.
Ao voltar para casa, por volta de meia-noite, à época considerado horário tardio, já sob o efeito do loiro líquido dionisíaco(como afirmava o saudoso Wilson Vieira), ao abrir a porta do banheiro, deu de cara com o inofensivo tejo, que fazia rebuliço dentro dágua.
Imediatamente Chico teria gritado: " Socorro, Didita! Me acode aqui depressa que estou muito ruim! Estou até vendo jacaré!".
Ao que a sua dedicada esposa o teria tranquilizado afirmando que o jacarezinho era na realidade um tejo que tinha sido colocado, durante a tarde, na banheira, por seu netinho.
Recordo-me perfeitamente de meu último contato com meu primo Deputado. Saia eu do trabalho às 9 horas da manhã(à época eu trabalhava de meia-noite à seis da manhã no extinto BMCPD - Banco Mercantil de Crédito Processamento de Dados Ltda, situado próximo ao Prédio dos Correios de Fortaleza), quando resolví dar uma passada no antigo Restaurante Belas Artes, do Osvaldo Azim, para comer uma panelada e começar o dia. Corria o ano de 1985(ou 1986).
Ao passar pelo Belas Artes, deparei-me com meu saudoso primo em animada mesa, colocada na calçada oposta ao Restaurante, com inúmeros amigos. Por ter ele conhecido meu pai e me ter reconhecido, convidou-me para sentar.
Tive a satisfação de ter tomado umas três cervejas com ele, e o mesmo não deixou-me pagar a despesa.
Fumamos, bebemos, conversamos amenidades. Onde o Deputado chegava, pelo seu carisma, pela sua animada conversa, o local parecia ganhar vida.
Depois soube que ele falecera por volta de 1990.
Guardo hoje, ainda, em meu baú de recordações, os sons da voz forte e da gargalhada do ex- Deputado, precocemente falecido.
O Tempo não pára.
(Daniel Figueiredo, 22/04/2010)
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Causo 3 - - - - Caetano Figueiredo
As Pedras Cachorritas

Contou-me o saudoso e inesquecível Prof. Maximino Barreto Lima(Mister Barreto), por volta de 1997, a estória a seguir relatada, a qual a minha pessoa desconhecia.
O pai do Autor destas linhas, Caetano Figueiredo(1902/1968), participou do Movimento Tenentista de 1922 e por este motivo foi excluído do Exército. Após o episódio, resolveu cursar Engenharia de Minas na cidade de Ouro Preto, tendo concluído citado Curso.
Quando Getúlio Vargas chegou ao poder, em 1930, anistiou todos os militares que tinham participado de Movimentos Revolucionários anteriores; assim, poderiam voltar para as Forças Armadas aqueles que desejassem e não tivessem sido excluídos por motivos justos(roubo, pederastia e outras causas). Assim, meu pai foi reintegrado ao Exército como Oficial da Arma de Engenharia, onde atingiria, mais tarde, a patente de Tenente-Coronel.
Tempos depois, fiel a Getúlio, ao ver o drama que o Grande Nacionalista Brasileiro passava, acuado por setores, em sua maioria, descompromissados com o Brasil, Caetano ficou extremamente desgostoso e resolveu, em solidariedade, por uma questão de gratidão, pedir seu afastamento do Exército.
Voltou para Sobral, sua Terra Natal e aqui dedicou-se a beber cervejas e vinho, a fazer poesias; também a rever os velhos amigos, que aqui deixara, cuidar de minha avó Ernestina Saboia(Totonia) e acabou conhecendo Maria Luiza, minha mãe, 35 anos mais nova que ele, com quem teve os filhos Sara(1953), Daniel(1955) e Nazira(1957). É desnecessário falar que tal fato foi um escândalo, para a Sobral da época, que ainda não possuia as Paradas de Primeiro de Maio atuais. Com certeza Caetano, se vivo fosse, daria boas gargalhadas ao ver rapazes tão alegres a desfilarem pelas ruas. Assim, graças à autenticidade do velho “Major Caetano”,que não curvou-se ao preconceito da época e ficou com minha mãe, estou aqui escrevendo estas linhas.
Porém, vamos ao que interessa.
Contou-me Mister Barreto que aqui havia, à epoca(década de 1950) não sei se próximo ao local da atual Fábrica de Cimento, indústria de garrafas de refrigerantes que eram fabricadas com vidro da cor verde. Próximo à fábrica, existia local onde os pedaços triturados do que restava da produção das garrafas, eram colocados. Seriam pedras semi-preciosas?
Dizem que pareciam, realmente, nas noites de luar.
Continuando, disse-me Mister Barreto que o Padre Tibúrcio passou por este local determinada noite e foi conferir o que seria aquele brilho, totalmente inusitado. Colocou pequena amostra em um saco e guardou ao chegar em casa. Dia seguinte, consultando amigos, estes, certamente com medo de contrariarem a opinião de Padre Tibúrcio, diziam: “É Padre. Parecem realmente serem turmalinas, ou pedras semi-preciosas, alguma coisa do gênero”.
Animado pela perspectiva, falou Padre Tibúrcio: “Quero a certeza... Tem alguém aqui em Sobral que poderia tirar esta minha dúvida?” Foi aí que um dos presentes disse: “Tem, sim, Padre! Tem o Major Caetano, que formou-se em Minas Gerais em Engenharia de Minas”.
Lá se foi o Padre Tibúrcio, levando pequena amostra do que encontrara, visitar meu pai.
Caetano estava, como de hábito, tomando o seu vinhozinho e lendo. Fico a imaginar se não estaria ele, no momento, a ler “De Belo Galia”, de Júlio César, que versa sobre a Campanha da Gália(França), conquistada pelo Imperador Romano. Este era, recordo-me, um de seus livros prediletos.
Atendeu o Padre gentilmente e, depois de examinar atentamente o que Padre Tibúrcio lhe mostrava, foi à sua estante, onde fingiu ler alguns trechos de livro que abordava o assunto Pedras Semi-Preciosas.
Ao se aproximar do Padre com o livro na mão, este, que não continha a ansiedade, indagou a meu pai:
“Major Caetano... as pedras são realmente semi-preciosas?”
Ao que Caetano respondeu:
“São sim, padre. Certamente.”
E o Padre: “Major...Como se chamam, então ?”
Caetano: “Chamam-se Cachorritas”.
Animado, Padre Tibúrcio indagou-lhe: “ Cachorritas? Para que servem?”
Concluiu meu pai: “ Servem para serem jogadas em cachorros, Padre Tibúrcio. São pedaços de vidros triturados.”
Padre Tibúrcio agradeceu e foi embora.
Caetano ficou a tomar o seu vinho Raposa, e a fumar seus cigarros Continental sem filtro, balançando-se em sua rede de tucum, creio que indiferente à proximidade da velhice, a deliciar-se com as suas leituras.
A vida é muito breve.
(Sobral, 29 de Abril de 2010)

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Causo 4 - - - - Breve Encontro que mantive com o ex-Presidente Gal. João Baptista Figueiredo
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Causo 5 - - - - Breve Encontro que mantive com o Líder Político Luis Carlos Prestes
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Causo 6 - - - - João Sales e o Judas
Passando o Reveillon de 2009 na Serra da Meruoca, com a minha família, tive a oportunidade de reencontrar pessoas muito estimadas.
Uma destas encontrei no Restaurante do João Raul, dia 01/01/2010, por volta das 19 horas.
Estava a tomar uma geladinha, e a refletir sobre a vida, quando adentrou no Bar o João Sales, irmão do Dico, com sua esposa. Pediu um wiskey e, como aquela hora somente estavam no bar nós três e o dono, tinha de aparecer uma conversinha para quebrar o tédio.
O silêncio da Serra , à noite, é algo maravilhoso. Aquele clima frio....
Bem, narrou-me então o João Sales a seguinte estória.
Disse-me ele que, por volta da década de 1950, costumava, junto com Hugo Alfredo e outros amigos, beber no Bar Antárctica, de saudosa memória. Eram jovens, à época, e, com certeza, muito brincalhões.
Tinha um Delegado, tipo metido a sério, que constantemente implicava com eles, impondo horário para fechar o bar e outras coisas do gênero.
Depois de muito sofrerem, resolveram ir à forra. Véspera do Dia de Judas, confeccionaram um boneco, colocaram bigode, chapéu, aquelas camisas de mangas compridas e....no peito do Judas, escrito na placa, em letras garrafais.... resolveram, de forma provocante, escrever o nome de citado Delegado. Penduraram o Judas defronte ao Bar Antártica.
Todos gostaram muito da brincadeira, exceto, evidentemente, o Delegado. Advertido por amigos, foi conferir o Judas. Depois de ser empezinhado e gozado por muitos dos então adolescentes ou rapazolas, o Delegado resolveu retaliar duramente. Já que, parece-me, o Hugo Alfredo era o dono do Antárctica, à época, o Bar foi imediatamente fechado.
Ocorre que o Bar tinha um cliente muito especial, amigo do Hugo Alfredo, e que só bebia, diariamente a sua cerveja, naquele local. Caetano Figueiredo não gostou muito da idéia de ver seu local predileto compulsoriamente fechado e.... mandou reabrir o Antárctica.
Por alguns dias, o sempre lotado Bar Antárctica teve apenas um cliente.
O Delegado passava, passava, e, prudentemente, não se pronunciava. Temerosos, os adolescentes e rapazolas não ousavam adentrar o local, com medo do Delegado. Lá dentro, apenas um cliente sorvia, calmamente, a sua geladinha. Escondidos próximo à Igreja do Rosário, João Sales e a sua patota davam risadas silenciosas ante a impotência do Delegado.
Tempos depois a situação normalizou-se e o velho e tradicional Bar Antárctica, orgulho dos biriteiros de Sobral, passou a funcionar normalmente.
É uma pena que o Bar Antárctica tenha desaparecido. Como eu seria feliz se, hoje em dia, pudesse tomar uma geladinha no mesmo local onde beberam ilustres sobralenses e nossos queridos antepassados.
Revertere ad Locum Tuum.
(Sobral, 01/05/2010, Sábado)
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Causo 7 - - - - Olavo Frota e os Juizes

Olavo Rodrigues Frota, casado com Antonina Figueiredo(Nena), irmã de meu pai, Caetano, foi um homem probo, íntegro, uma pessoa excelente.
Conheci-o em 1968, quando o mesmo morava próximo ao Colégio Cristo Rei, em Fortaleza, salvo engano na Rua Padre Luis Figueira. Homem pacato, inteligente, cordial, essencialmente bom. Foi Juiz de Direito em Sobral, Santana do Acaraú e em outras localidades da Zona Norte do Ceará. Por causa da Intentona de 1935 foi perseguido por suas opiniões.
Distinto casal, Olavo e Nena, geraram filhos. Sobreviveram Sílvio Geraldo(Dentista), Antônio(Médico) e João Byron de Figueiredo Frota(Advogado).
João Byron é o atual (em 2010) Corregedor Geral do Estado do Ceará, a exemplo do pai, homem de valor. Conheci Byron Frota em 1967, quando este veio a Sobral, logo depois de se formar em Direito pela UFC e pouco tempo antes de meu pai morrer. Geraldo e Antônio, conheci-os depois, em Fortaleza, e já são falecidos.
Mas o que eu gostaria de relatar foi um causo que o meu estimado e inesquecível primo Carlos Ernesto Saboia de Albuquerque (Carlinho Saboia, 1914-2007) contou-me certa vez. Pediu-me segredo e só coloco a história “no ar”, nas ondas hertzianas da Internet, porque o Carlinho já faleceu e também os demais protagonistas.
O tempo é o maior dos nossos algozes. O tempo é um carrasco.
Disse-me ele ter sabido por amigos que, na década de 1940, ou na de 1950, teria ocorrido o seguinte causo.
Tio Olavo estava em animada conversa, com mais dois distintos Juizes, a beber cervejas. Olavo Frota, ressalvo, conheci-o abstêmio e, com certeza, se bebeu algum dia na vida, o fez de forma muitíssimo controlada. O local , salvo engano, era o Bar Antárctica ou o Cascatinha, tradicionais na Princesa do Norte.
Advertida por amigas, ao aproximar-se da mesa, tia Nena teria encarado os três animados Juizes e colocado as mãos na cintura, certamente para avisar-lhes que não estaria gostando muito daquela animação, do descontraído papo.
Tolhidos de surpresa, os três Juizes entreolharam-se e teriam olhado para tia Antonina, atônitos e meio sem jeito e dado um sorriso, digamos, amarelado.
Ao que ela teria, depois de olhar-lhes nos olhos, indagado:
“De que riem estes três abestados?!”
Calaram-se.Certamente que o clima deve ter mudado na animada conversa a partir de então.
Até hoje, já mais que cinquentenário, nunca conheci mulher que gostasse de ver o marido a bebericar. Aliás, dizem as más linguas, mulher que “empurra o marido para beber”, estaria, na melhor das hipóteses, muitíssimamente má intensionada. Disto todos nós, homens, devemos saber. Quando a mulher chega para o marido que vem de algum bar e diz “ Oi amor... você já chegou? Está tão cedo...”, evidentemente que este deve passar, prudentemente, as mãos na testa para ver se eles, os dois, já não estariam lá...
(Sobral, 30/05/2010, Domingo)
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