domingo, 25 de abril de 2010

Crônicas Sobralenses

Crônica 1

MEU IRMÃO

Éramos sete...Agora somos apenas seis! A fatalidade veio e de forma abrupta levou um de nós. Naquela quarta-feira, dia 15 de março de 2006, estávamos todos ali em torno do corpo inerte que jazia no caixão.
Por alguns instantes permaneci imoto, imóvel e introspectivo, nos olhos de todos vislumbrei um misto de tristeza, saudade e uma sensação inexprimível de solidão. Procurei então de maneira insofismável encarar friamente o fato. E é evidente, não consegui! Entre murmúrios, sussuros, choros e lágrimas passeei fagueiro em feérica e alucinante viagem, atravessando o tempo e o espaço em inimagináveis espectros de realidades já vivenciadas.
Sim, Randal, é claro tu estavas no centro delas junto com nossos pais, que já se foram, e irmãos que aqui ainda estão. Ví-te na nossa querida Reriutaba, nos primeiros anos ante nossos avós que o adoravam. Como era verde aquele vale com toda a doçura de uma infância feliz. Já a adolescência a tudo e a todos parecia que assim também seria! Ledo engano, em apenas três anos perdemos nosso avô, nossa querida e inesquecível mãe e tu ainda tiveste a infelicidade de uma terrível tragédia pessoal que te marcou profundamente por toda a vida. Se afinal nem tudo na vida são apenas flores e amores, não precisava também tantos dissabores juntos, mas são os desígnios de Deus e não há como questioná-los.
Neste momento as lágrimas brotaram, e chorei, um choro contido, silencioso e solitário. A plena compreensão da finitude da vida e de sua efemeridade deu-me um ímpeto de encará-la de modo calmo e brando, então encarei teu rosto plácido e orei por ti, meu irmão. Enfim, todo começo tem um fim, uns embarcam mais cedo, outros demoram um pouco mais, mas todos nós, um dia iremos. Se do pó viemos, ao pó voltaremos!
É Randal, meu irmão, sentirei falta de tua incrível capacidade de superar com coragem as adversidades da vida, de tua alegria e vontade de viver, de tua inteligência brilhante e aguçada, de tua facilidade de fazer e cativar amizades, de tua prosa amistosa e otimista, de teus sonhos mirabolantes e principalmente meu irmão, sentirei falta de tua presença física, pois a espiritual sempre a terei por perto!
Ide e descanse em paz e que Deus o tenha junto a Ele! Amém!

PS: Crônica escrita por meu estimado amigo José Lucidio Castro Mesquita, Engenheiro Civil, Advogado e Professor Universitário, por ocasião do falecimento de seu irmão José Randal de Mesquita Filho, igualmente amigo do Autor deste Blog.
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Crônica 2
Caetano Figueiredo
( Crônica de Wilson Vieira)
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Ontem à noite, já nos últimos momentos do dia 9, a Dama Branca desceu de novo sôbre Sobral. Poucos dias antes levou Ecmar Demétrio, o bom amigo. Agora foi Caetano Figueiredo o seu escolhido, já quáse septuagenário.
Quando isso acontece, dentro do meio social em que vivemos, a nossa sensação é a mesma de uma perda. Nos nossos cálculos estatísticos registra-se um déficit e no nosso sentimento uma espécie de abalo. Não estamos ainda bem acostumados com o inevitável.
Caetano Figueiredo é uma lembrança saudosa e inapagável nas minhas memórias. Lembro-me de um passado não muito distante, quando entrámos numa polêmica sôbre relatividade. Fogo de inteligências, procurando novas inteligências para um bate-papo científico. E também recordo do nosso solene momento de reconciliação.
Coisas passadas e bôas, que não nos saem do pensamento.
Foi nêsse dia, - - exercitados do loiro líquido dionisíaco, que - - estranho que pareça, - - declamou-me Caetano Figueiredo as suas métricas poéticas. Sonetos claros, de um parnasianismo incontestável. Amor ...filosofia...humorismo... e a ânsia incontida de buscar uma fé, naquele seu conhecido ceticismo.
Como Khàyyàam, Caetano preferia as taças maiores, considerando o eventualismo e a fugacidade desta pobre existência. Mas era cheio de bom humor, fazendo dêle o vínculo de sua personalidade com a sociedade que integrava no seu meio.
Caetano Figueiredo era filho do Dr. Antonio Figueiredo e de Dona Antônia Saboia Figueiredo, pessôas distintas e ilustres desta terra. Era Cel. do Exercito Brasileiro.
Inclinado às matemáticas, conheceu muito bem o calculo diferencial e os segredos equiparados da ciência dos números.
Newtoniano como muitos, havería de estranhar e até de duvidar desta desconsertante tecnologia que nos rodeia atualmente, e para a qual já sentimos distanciar-se a arte, com seus temas superados.
Era o meu anterior receio. E a sua contestação.
O velho sino da Sé, nestas dez horas solares, avisa o seu passamento. O tom do sino é longo e triste.
E seus amigos refletem e pensam na fragilidade humana.
------------------------------------------------------------------------------- Em 10-1-68
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Essa crônica foi escrita por ocasião do falecimento de Caetano Figueiredo, ocorrido a 9 de janeiro de 1968, e de quem Wilson Vieira era amigo.(Transcrita ipsis litteris)

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