terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Batalha de Berlim

No começo de 1945 a Frente Leste se encontrava relativamente estável. Desde a Operação Bagration, lançada pelos soviéticos em junho de 1944. O Exército Vermelho parecia ter perdido força para realizar operações de vulto. Romênia e Bulgária, aliados da Alemanha na invasão da União Soviética em 1941, já haviam solicitado o armistício e mudado de lado na guerra. Os Alemães ainda haviam perdido parte da Hungria, muito embora ainda mantivessem Budapeste sob seu controle. Ao norte, os soviéticos já se encontravam às portas de Varsóvia. No setor mais meridional da frente, algo em torno de 200.000 alemães se encontravam encurralados na Península de Courland.
A estabilidade, no entanto, era precária para as forças do Eixo. O Coronel-General Heinz Guderian, chefe do estado-maior do exército alemão, insistia junto à Hitler que um ataque soviético em qualquer ponto da frente leste teria como resultado o colapso da mesma. Hitler, contudo, insistia que a frente oriental teria que se manter com as forças disponíveis e recusou-se a permitir retiradas para áreas mais defensáveis na retaguarda.
Joseph Stalin, dirigente da União Soviética, ansiava por chegar à capital alemã antes dos aliados ocidentais. Ele mesmo assumiu muitas das funções de seus comandantes militares na preparação do que ele pretendia ser a arremetida final ao coração da Alemanha. Igualmente ordenou que o Primeiro Front Ucraniano sob comando do Marechal Ivan Konev e o Primeiro Front Bielorusso sob o Marechal Georgy Zhukov, ambos colocados em setores próximos em linha reta à Berlim, teriam prioridade em equipamentos e substituições.
O avanço final contra a Alemanha estava previsto para o início de 1945. O plano incluía ataques coordenados e simultâneos no amplo front oriental. Marcado para o dia 20 de janeiro, a ofensiva foi antecipada para o dia 12 do mesmo mês a pedido dos aliados ocidentais. Estes estavam envolvidos em uma grande operação para conter o ataque alemão na região das Ardenas, Bélgica e pediram ajuda aos soviéticos para aumentarem a pressão sobre o flanco leste da Wehrmacht (forças armadas alemãs) de forma a aliviarem a pressão sobre si.
O poder de fogo soviético, sua grande vantagem em equipamentos e a ânimo de oficiais e soldados de levarem a guerra ao solo alemão não demorou a se fazer sentir. Varsóvia foi libertada do jugo alemão em apenas cinco dias. Logo o Exército Vermelho avançava pelas planícies polonesas em perseguição das forças alemãs em retirada. Aquelas que, por algum motivo, não conseguiram mover-se rapidamente, foram cercadas e obrigadas à pedir rendição ou subjugadas pelo poderio do inimigo.
Ao norte, os soviéticos invadiram os Estados Bálticos, firmaram posição na Prússia oriental e rapidamente cercaram a cidade de Königsberg. Como o general Guderian havia suspeitado, a frente leste entrou em colapso rapidamente. Muitas unidades alemãs eram simplesmente empurradas para trás pelo avanço soviético e, aquelas que não conseguiam recuar a tempo, caíam cercadas e dizimadas.
Ao sul, a ofensiva soviética progredia com menor vulto. Mesmo assim, Budapeste, que os alemães haviam conseguido manter contra duas tentativas soviéticas de tomá-la, caiu em 13 de fevereiro. Hitler insistiu na necessidade de se manter a Hungria sob controle. Para isso, ordenou um contra-ataque para retomar Budapeste e o quanto de território húngaro fosse possível. Tropas foram trazidas da frente ocidental e mesmo de pontos de luta no front leste de forma a fortalecer as unidades que tomariam parte na libertação da capital húngara. Sob comando do general SS Josef "Sepp" Dietrich, um dos oficiais mais próximos do Führer alemão, o 6º Exército Panzer SS iria lutar juntamente com o 2º Exército Panzer contra um inimigo com forças três vezes superior à sua própria e em condições climáticas e de terreno que dificultavam em muito a realização de manobras de ataque. Iniciado em 6 de março, a ofensiva pegou os soviéticos de surpresa e mostrou-se, de início, promissora. Contudo, pouco mais de uma semana após o início da luta, os alemães já haviam perdido a iniciativa. No dia 20, Dietrich ordenou que suas forças se entrincheirassem e se preparassem para o inevitável conta-ataque soviético. Por esta época, o 6º Exército Panzer SS se encontrava de volta às posições que havia utilizado para o início da luta. Um total de 14.000 alemães e pouco mais de 30.000 soviéticos morreram nesta frustrada operação.
Na segunda semana de fevereiro, o Segundo Front Bielorusso do Marechal Konstantin Rokossovski penetrou na Prússia Ocidental de forma que o Grupo de Exército Vístula sob comando do Reichführer SS Heinrich Himmler foi obrigado a recuar para as cidades da região. Quando a ala direita do Primeiro Front Bielorusso juntou-se ao ataque na Prússia, as condições pioraram consideravelmente para os alemães. O Segundo Exército e o Terceiro Exército Panzer perderam contato com as forças alemães postas ao redor de Berlim e ficaram isolados.
O Primeiro Front Ucraniano do Marechal Konev ainda não havia cruzado o rio Oder por esta época. Ele encontrava dificuldades para submeter a cidade de Breslau e por isso não havia ultrapassado os limites da Silésia. Konev, como Zhukov, desejava chegar à Berlim e ser reconhecido como o conquistador do baluarte facista. Sua solução para a resistência em Breslau foi o de cercar a cidade e seguir com o grosso de suas forças para o Oder. Uma vez cruzado o rio, Berlim estaria a seu alcance pelo sul.
Em todos os setores que atacavam, os soviéticos possuíam força avassaladora. A resistência alemã era forte, porém sem esperanças de deter por muito tempo o inimigo. A perspectiva de viver sob jugo soviético era o combustível da desesperada resistência nazista.
Enquanto Rokossovski invadia a Prússia, Hitler acreditava que tinha que manter o controle da situação por meio de um contra-ataque ao norte, na região da Pomerânia, contra o flanco exposto do Primeiro Front Bielorusso. Guderian insistiu junto à Hitler para que o general Walther Wenck comandasse a ofensiva. Hitler preferia colocar o comando da operação nas mãos de Himmler. Entretanto, após acalorada discussão com seu chefe do estado-maior, o Führer concedeu que Wenck comandasse o ataque. Os alemães conseguiram reunir 1.200 tanques e blindados para a operação de ataque. A falta de combustível e munição, todavia, fazia os oficiais acreditarem que o ataque não poderia ter objetivos ambiciosos. Se conseguisse trazer algum alívio para a os civis e soldados situados diante dos exércitos de Rokossovski e Zhukov, já seria meritório. Por fim, os alemães lançaram a ofensiva no dia 16 de fevereiro. No dia seguinte, Wenck sofre um acidente de automóvel e o comando passa ao general Hans Krebs. Logo o Segundo Exército de Tanques de Guardas do Primeiro Front Bielorusso torna a empurrar os alemães de volta às suas linhas de partida.
Em 30 de Março os soviéticos entram na Áustria. Viena é forçada a rendição em 13 de Abril após quatro dias de luta.
No início de abril Berlim se encontrava ameaçada pelo sul com a travessia do Oder pelas forças de Konev. Agora bastava um movimento das tropas do Primeiro Front Ucraniano de cercar a capital alemã pelo sul e um movimento similar da frente dirigida por Zhukov pelo norte que Berlim cairia isolada do restante do país.
Operação Vístula-Oder
A 9 de Abril de 1945, Königsberg, na Prússia Oriental, cai sob o domínio do Exército Vermelho, liberando assim a Segunda Frente Bielorrussa do Marechal Rokossovsky para cruzar em direção à margem oriental do rio Oder. Durante as primeiras duas semanas de abril, os russos realizaram a sua mais rápida realocação de unidades na guerra. O General Georgy Zhukov concentrou a sua Primeira Frente Bielorrussa, que havia sido posicionada ao longo do rio Oder, em uma área em frente as Colinas de Seelow. A Segunda Frente Bielorrussa moveu-se então para as posições deixadas pelas forças de Zhukov ao norte de Seelow. Enquanto a reorganização ocorria, espaços foram deixados entre as frentes e parte das forças do Segundo Exército Alemão, que tinham formado bolsas de resistência perto de Danzig na Pomerânia, conseguiram escapar através do rio Oder. No sul, o Marechal Konev reagrupou suas forças para participar da tomada de Berlim.
As três frentes soviéticas tinham em conjunto 2,5 milhões de homens, 6.250 tanques, 7.500 aviões e 41.600 peças de artilharia e morteiros.
Zhukov havia decidido concentrar tropas no intuito de atacar o último obstáculo natural antes de Berlim: as Colinas de Seelow. Seria uma tarefa difícil tomar posições inimigas escondidas em locais que possibilitavam aos alemães vislumbrarem do alto a movimentação do Exército Vermelho. Entretanto Zhukov sabia que uma vez conquistado aquele ponto da frente de batalha, Berlim estaria apenas à 60 quilômetros de seus exércitos.
A 20 de Março, Heinrich Himmler foi substituído como comandante do grupo de Exército do Vístula pelo General Gotthard Heinrici. Ele era um dos melhores táticos de defesa no exército alemão e começou imediatamente a elaborar planos de defesa. Ele concluiu que seus homens teriam melhores chances contra o inimigo se, ao invés de se posicionarem às margens Oder, construíssem defesas nas Colinas de Seelow. Ele previu corretamente que o principal avanço soviético seria feito no setor do rio Oder defronte às colinas pela curta distância dali até a capital alemã. Heinrici decidiu-se por manter pequenas guarnições ao longo do rio de forma a manter a aparência de que suas defesas seriam estabelecidas ali. Ao mesmo tempo,ele ordenou a seus oficiais que fortificassem pontos elevados situados nas colinas. Diminuiu a linha defensiva em algumas áreas para aumentar o número de soldados disponíveis para defender as Seelow . Os engenheiros do exército alemão transformaram as margens do Oder, já saturado pela corrente da primavera em um lodaçal de forma a dificultar a movimentação de tanques e blindados. Diante disto foram construídos três cinturões de defesa que alcançavam os arredores de Berlim. Estas linhas consistiam em poços e instalações de canhões antitanque e em uma extensiva rede de trincheiras e de bunkers.
O Terceiro Exército Panzer comandado pelo General Hasso von Manteuffel foi posicionado para receber o grosso da arremetida das forças da Primeira Frente Bielorrussa. Suas tropas eram uma miríade de unidades desfalcadas de homens e equipamentos. À sua direita, estavam posicionados o Quarto Exército Panzer e o Nono Exército Alemão, este último sob ordens do General Theodore Busse. Suas tarefas eram auxiliar o Terceiro Exército Panzer e, mais importante de tudo, impedir que as forças de Konev realizassem o movimento em pinça pelo sul que cercaria a capital do Reich e as forças que a defendiam.
A Ofensiva Final
que as Seelow começou na madrugada de 16 de abril. O Primeiro Front Bielorusso abriu o ataque com fogo de artilharia e barragem de foguetes Katiuchas. O poder de fogo era avassalador. Segundo alguns relatos, o impacto dos projéteis de artilharia foi sentido em Berlim, a pouco mais de sessenta quilômetros dali. Mais ao sul, as tropas de Konev também abriram fogo contra as posições alemães. Pouco depois sua infantaria e tanques avançavam sobre as defesas alemães situadas do outro lado do Oder. Para Zhukov o ataque não saiu como planejado. Com a decisão de Heinrici de concentrar suas unidades na segunda linha de defesas, o fogo soviético apesar de imenso, pouco dano causou. Quando chegou a hora dos tanques avançarem, não só encontraram muito lodaçal e crateras abertas por sua própria artilharia, como também se viram frente à frente com intactas unidades de defesa do inimigo. Posicionados nas Seelow a artilharia alemã possuía excelente visão dos atacantes às margens do rio. O poder de fogo delas não tardou em abrir claros na compacta formação de tanques e blindados soviéticos. Enquanto isso, o Primeiro Front Ucraniano obteve sucesso em seu avanço. Os exércitos de Konev cruzaram o rio Oder com relativamente poucas baixas e já faziam os alemães recuarem. O IV Exército Panzer sob ordens do general Fritz-Hubert Gräser lutava desesperadamente para manter as margens do rio, mas agora não apenas se via empurrado para trás pelo avanço inimigo, como já havia a ameaça de ter sua coesão quebrada. Suas unidades começavam a perder contato entre si uma vez que os soviéticos se infiltravam nos espaços deixados sem defesa. Com as dificuldades de Zhukov em frente as Seelow, Stalin permitiu que Konev utilizasse seus exércitos para atacar Berlim pelo sul. Assim, no dia 18 de abril, Konev ordenou que o Terceiro Exército de Tanques de Guardas do general Pavel Rybalko e o Quarto Exército de Tanques de Guardas sob o general Dmitri Lelyushenko realizassem inflexão de suas forças para o norte para atacar Berlim pelo sul. Durante este período, o Primeiro Front Bielorusso realizou custosos e lentos progressos para tomar as posições alemães nas colinas de Seelow. Somento no dia 19 de abril os últimos remanescentes das defesas montadas pelo general Heinrici recuaram para Berlim. Estas tropas formariam grande parte das unidades que lutariam a definitiva batalha no interior da capital alemã. O Nono Exército Alemão por esta época lutava desesperadamente para não ser cercado juntamente com o Décimo-Segundo Exército pelo avanço das tropas do Primeiro Front Ucraniano. As ordens de Hitler para que os soldados não cedessem um palmo de terra sem luta custava, muitas vezes, o cerco de tropas alemãs pelo inimigo. No dia 20 de abril, aniversário do Führer alemão, as baterias do Primeiro Front Bielorusso começaram a fazer fogo sobre Berlim. Era o sinal claro para aqueles que ainda mantinham esperança de deter os russos nas Seelow que a guerra estava perdida. Atacada por poderosas pinças blindadas pelo leste e pelo sul, as guarnições de Berlim resistiram por pouco mais de dez dias. No dia 30 de abril Hitler se suicidou. Dia 2 de maio, a cidade se rendia. O custo em termos de vidas humanas foi altíssimo para ambos os lados. As decisões de Stalin e Hitler de buscarem seus objetivos políticos, a qualquer custo, em um dos últimos episódios da Segunda Guerra Mundial na Europa, fez com que milhares de pessoas perdessem suas vidas.
As ruas devestadas no centro de Berlim na Unter den Linden em 3 de julho de 1945
Os soviéticos sofreram 20 a 25 mil mortos na cidade e 81 mil mortos durante a operação inteira. Outros 280 mil foram reportados como feridos ou doentes durante o período da operação. Os alemães sofreram mais de 450 mil mortos, feridos ou desaparecidos, incluindo civis.
Após a morte de Hitler, e segundo os seus desejos no seu último testamento, o Almirante Karl Dönitz tornou-se o novo Reichspräsident e Joseph Goebbels no novo Reichskanzler. Contudo, o suicídio de Goebbels a 1 de Maio de 1945 deixou ao primeiro a tarefa de negociar a rendição da nação alemã. O alto comando alemão e a maioria das forças armadas alemãs renderam-se incondicionalmente aos Aliados a 8 de Maio de 1945. Embora algumas forças alemãs continuassem a lutar durante mais alguns dias, a guerra na Europa havia efetivamente chegado ao fim.
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Berlim

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