quinta-feira, 11 de junho de 2009

Caetano Saboia de Albuquerque Figueiredo


(Sobral, 1902 - Sobral, 1968).

Transcrevo abaixo, integralmente, a Crônica que Wilson Vieira, de quem Caetano era amigo, escreveu dia 10/jan/1968:

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Caetano Figueiredo

( Crônica de Wilson Vieira)

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Ontem à noite, já nos últimos momentos do dia 9, a Dama Branca desceu de novo sôbre Sobral. Poucos dias antes levou Ecmar Demétrio, o bom amigo. Agora foi Caetano Figueiredo o seu escolhido, já quáse septuagenário.

Quando isso acontece, dentro do meio social em que vivemos, a nossa sensação é a mesma de uma perda. Nos nossos cálculos estatísticos registra-se um déficit e no nosso sentimento uma espécie de abalo. Não estamos ainda bem acostumados com o inevitável.

Caetano Figueiredo é uma lembrança saudosa e inapagável nas minhas memórias. Lembro-me de um passado não muito distante, quando entrámos numa polêmica sôbre relatividade. Fogo de inteligências, procurando novas inteligências para um bate-papo científico. E também recordo do nosso solene momento de reconciliação.

Coisas passadas e bôas, que não nos saem do pensamento.

Foi nêsse dia, - - exercitados do loiro líquido dionisíaco, que - - estranho que pareça, - - declamou-me Caetano Figueiredo as suas métricas poéticas. Sonetos claros, de um parnasianismo incontestável. Amor ...filosofia...humorismo... e a ânsia incontida de buscar uma fé, naquele seu conhecido ceticismo.

Como Khàyyàam, Caetano preferia as taças maiores, considerando o eventualismo e a fugacidade desta pobre existência. Mas era cheio de bom humor, fazendo dêle o vínculo de sua personalidade com a sociedade que integrava no seu meio.

Caetano Figueiredo era filho do Dr. Antonio Figueiredo e de Dona Antônia Saboia Figueiredo, pessôas distintas e ilustres desta terra. Era Cel. do Exercito Brasileiro.

Inclinado às matemáticas, conheceu muito bem o calculo diferencial e os segredos equiparados da ciência dos números.

Newtoniano como muitos, havería de estranhar e até de duvidar desta desconsertante tecnologia que nos rodeia atualmente, e para a qual já sentimos distanciar-se a arte, com seus temas superados.

Era o meu anterior receio. E a sua contestação.

O velho sino da Sé, nestas dez horas solares, avisa o seu passamento. O tom do sino é longo e triste.

E seus amigos refletem e pensam na fragilidade humana.

---------------------------------------------------------------------------------------------- Em 10-1-68

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