sexta-feira, 11 de junho de 2010

História Militar - O Duelo Mortal

"HISTÓRIA MILITAR
Em plena Batalha de Stalingrado o duelo mortal entre Zaitsev e Könings
Ao ser iniciada a Batalha de Stalingrado, durante a Segunda Grande Guerra- aquela que é considerada ainda hoje a maior Batalha de toda a História, travada entre alemães e russos e que durou de agosto de 1942 a fevereiro de 1943 - Stalin, sabedor da importância vital da mesma, nomeou para Comandante em Chefe da defesa da cidade um General de 42 anos de idade, chamado Vasili Chuikov, e ordenou-lhe que defendesse Stalingrado até o último homem. Ao que este lhe respondeu: "Camarada Stalin, a cidade é muito querida pelos nossos... Tudo faremos para defendê-la. Prometo que jamais abandonaremos Stalingrado : a defenderemos ou então ...pereceremos! ".
Bem , este General depois escreveu um livro interessantíssimo, que leva o nome da citada batalha. Transcrevo abaixo, nas palavras do próprio Chuikov, trechos da volumosa obra, que tive oportunidade de ler há 7 ou 8 anos atrás.
..."Os alemães, com a sua superioridade no ar, não desdobravam as suas forças com particular cuidado e mal camuflavam os ataque que preparavam contra nós. Agiam com audácia e insolência.
Os soldados alemães, ao entardecer ou durante a noite, muitas vezes gritavam:
Russos! Amanhã, tiroteio!
Nessas ocasiões sabíamos, com certeza, que no dia seguinte seríamos atacados por grandes efetivos precisamente naquela área. Os alemães, naturalmente, imaginavam que cada novo e poderoso ataque lhes traria êxito e os seus gritos tinham o óbvio propósito de causar efeito no espírito de nossos soldados.
Nos combates contra esses diabólicos rufiões elaboramos a nossa própria tática, os nossos próprios métodos. Antecipávamo-nos aos seus ataques com contra-ataques e contrapeparativos e não os deixávamos em paz, noite e dia.
....Demos particular atenção ao desenvolvimento de um movimento de franco-atiradores entre as nossas tropas. O Conselho Militar do Exército apoiou a medida. O Diário do Exército Em Defesa do Nosso País publicava, todos os dias, cifras do número de alemães mortos pelos nossos franco-atiradores e publicava fotografias daqueles que tinham a pontaria mais certeira...E ai dos boquiabertos nazistas! Centenas, milhares deles foram mortos pelos nossos "caçadores de animais de duas pernas".
....Encontrei muitos dos franco-atiradores mais conhecidos, como Vasili Zaitsev, Anatoli Tchecov e Viktor Mendvev; conversei com eles, ajudei-os tanto quanto pude e freqüentemente os consultava.
Esses soldados não se distinguiam , de maneira particular, dos demais.
...Os franco-atiradores saiam "à caça", às primeiras horas da manhã, para locais previamente selecionados e preparados, camuflavam-se cuidadosamente e esperavam, pacientemente, o aparecimento de seus alvos. Sabiam que a mais ligeira negligência ou pressa levaria a morte certa: o inimigo mantinha cuidadosa vigilância sobre os nossos atiradores. Eles gastavam poucas balas, mas todo tiro partido dêles significava morte ou ferimento para qualquer alemão colhido em seu campo de visão.
..Vasili Zaitsev fora ferido nos olhos. Um franco-atirador alemão naturalmente teve paciência de descobrir a pista do "caçador" russo que tinha cerca de 300 mortos alemães a seu crédito. Ao se recuperar, Zaitsev voltou ao serviço ativo.Todo franco-atirador famoso em regra passava adiante sua experiência, ensinava a jovens atiradores a arte de atirar. Daí que os nossos soldados costumassem dizer:
- Zaitsev treina seus coelhinhos e Mendvev os seus ursinhos. Todos eles matam alemães e não erram...(O nome Zaitsev deriva da palavra russa para coelho e Mendvev da palavra russa para urso). Viktor Mendvev foi conosco até Berlim. Matou mais alemães do que Zaitsev, seu professor.
....As atividades dos nossos franco-atiradores causavam grande intranqüilidade aos generais alemães, que decidiram voltar contra nós, também, essa habilidade militar. Isto aconteceu em setembro(de 1942). Uma noite as nossas patrulhas trouxeram um prisioneiro para fins de identificação que nos disse que o Chefe da Escola Alemã de Franco-Atiradores, Major Könings, tinha chegado de avião de Berlim e fora incumbido , antes de tudo, de matar o mais eminente dos franco- atiradores soviéticos.
.....O Comandante de Divisão, Coronel N. F. Batyuk, convocou os atiradores e lhes contou o que havia:
Penso que o super-atirador de Berlim será prêsa fácil para os nossos franco-atiradores. Estou certo, Zaitsev?
Está certo, camarada Coronel- respondeu Zaitsev.
Agora é o próprio Zaitsev quem narra o que ocorreu:
"A chegada do atirador nazista trouxe-nos uma nova tarefa: tinhamos de encontrá-lo, estudar os seus hábitos e métodos e esperar pacientemente o momento justo para um, sòmente um, certeiro tiro.
Eu conhecia o estilo dos atiradores nazista pelo seu fogo e pela sua camuflagem e podia, sem dificuldade, distinguir os experimentados dos novatos, os covardes dos tenazes e resolutos. Mas o caráter do chefe da escola era ainda um mistério para mim. Presumivelmente alterava a sua posição com freqüência e me procurava tão cuidadosamente quanto eu a ele.
Então alguma coisa aconteceu. O meu amigo Morozov foi morto e Sheykin ferido por um fuzil com mira telescópica. Eram considerados atiradores experimentados, muitas vezes tinham saído vitoriosos das mais difíceis escaramuças com o inimigo.
..Agora não havia mais dúvida. Tinham dado com o super-atirador nazista que eu procurava. Pela madrugada saí com Nikolay Kulikov para as mesmas posições que os nossos camaradas- Morozov e Sheykin- haviam ocupado na véspera. Inspecionando as posições de vanguarda do inimigo, que havíamos passado muitos dias estudando e conhecíamos bem, nada encontrei de novo. O dia estava chegando ao seu têrmo. Então, acima de uma trincheira alemã surgiu inesperadamente um capacete, movimentando-se vagarosamente ao longo dela. Deveria eu atirar? Não! Era um ardil, o capacete movimentava-se de modo irregular e presumivelmente estava sendo levado por alguém que ajudava o atirador, enquanto ele esperava que eu atirasse.
"- Onde estará escondido?" - perguntou Kulikov, quando deixamos a emboscada sob a proteção da escuridão. Pela paciência que o inimigo demonstrara conjeturei que o atirador de Berlim estava ali. Era necessário vigilância especial.
..Passou-se um segundo dia. De quem seriam os nervos mais resistentes? Quem venceria?
..O dia seguinte rompeu como sempre. ...travou-se batalha perto de nós, obuses silvavam acima de nossas cabeças, mas, colados às miras telescópicas, mantivemos o olhar dirigido para o que acontecia à nossa frente..
"- Lá está ele! Eu o indicarei para você! - disse, de repente, o instrutor político, excitado. Ele mal se elevou, literalmente por um segundo, mas sem cuidado, acima do parapeito, mas isso bastou para que o alemão o atingisse e ferisse. Esta espécie de disparo, naturalmente, só podia provir de um franco- atirador experiente.
"Durante muito tempo examinei as posições inimigas... pela velocidade com que disparara cheguei à conclusão que o atirador estava em algum ponto diretamente à nossa frente. Coloquei-me na posição do inimigo e pensei- que lugar melhor para um atirador? Sim, ele deveria estar sob uma chapa de ferro, próxima a uma pilha de tijolos quebrados, que ficava à nossa frente. Resolvi certificar-me. Pus uma luva na ponta de um pau e a elevei. O nazista caiu nessa. Abaixei, cuidadosamente o pau na mesma posição e examinei o orifício aberto pela bala. Ela a atingira diretamente, pela frente: isto significava que o nazista estava debaixo da chapa de ferro.
-Lá está o nosso atirador! Disse Nikolay Kulikov, com a sua voz calma, do seu esconderijo perto do meu.....Veio então o problema de atrair ainda que parte de sua cabeça para a minha mira. Era inútil tentar fazê-lo agora. Precisávamos de tempo. Mas eu pudera estudar o temperamento do alemão. Ele não abandonaria a boa posição que havia encontrado. Devíamos, portanto, mudar de posição.
..Trabalhamos durante a noite. Ficamos em posição pela madrugada.... A luz chegou com rapídez e ao raiar o dia a batalha que se desenvolvia vizinha a nós aumentou de intensidade. Mas nem o troar dos canhões nem a explosão de bombas e obuses, nada nos poderia distrair do trabalho que tínhamos à mão.
O Sol se elevou no céu. Kulikov deu um tiro às cegas: tínhamos de despertar a curiosidade do atirador. Havíamos decidido passar a manhã à espera, pois poderíamos ser localizados pelo reflexo do sol nas nossas miras telescópicas. Após o almoço os nossos fuzis estavam na sombra e o sol brilhava diretamente sobre a posição do alemão. Na ponta da chapa de ferro alguma coisa brilhava: um pedaço qualquer de vidro ou uma mira telescópica? Cuidadosamente, Kulikov começou, como sòmente podem fazê-lo os mais experimentados, a levantar o seu capacete. O alemão disparou. Por uma fração de segundo Kulikov se levantou e gritou. O alemão acreditou que finalmente apanhara o atirador soviético que vinha caçando há quatro dias e levantou a meio a cabeça de debaixo da chapa de ferro. Era com isto que eu contava. Fiz uma pontaria cuidadosa e atirei. A cabeça do alemão caiu para trás e a mira telescópica do seu fuzil ficou sem movimento, brilhando ao sol, até que a noite caiu...."
Agora quem conclui é Chuikov, o autor do livro: "Esta era a espécie de franco-atiradores que tínhamos no 62o Exército."
Acrescento: Stalingrado marcou a reviravolta da Segunda Guerra. Os russos a defenderam valentemente, sem medir o volume de sangue derramado. Terminou com a derrota do Sexto Exército alemão, comandado por Friedrich Von Paulus, que foi totalmente aniquilado. Dos cerca de 300.000 homens, foram feitos 100.000 prisioneiros ( o restante morrera em combate ou de doenças- de tifo e grangrena, principalmente) e, destes, apenas 5.000 estavam vivos quando findou a guerra. O pai de meu amigo Klaus, que possuiu em Sobral um bar situado na Praça do São Francisco- A Casa do Alemão- lutou na batalha e foi um dos 5.000 sobreviventes.
Ao se renderem os alemães aos russos, depois de seis meses de duríssimos combates , estes permitiram aos soldados e oficiais prisioneiros o uso de suas condecorações e espadas, o que não era permitido até então. Von Paulus, ao assinar a rendição perante o Alto Comando Soviético, depois de saudar militarmente aos seus vencedores, pegou uma taça de vinho e a ergueu, dizendo: "Aos russos, que nos venceram!" .
Daniel Caetano de Figueiredo- Professor Universitário - Engenheiro Civil"
Obs: Este Artigo foi Publicado na Imprensa Sobralense pelo Autor do Blog por volta de 2000/2001.

Nenhum comentário:

Postar um comentário